COMISSÃO ORGANIZADORA DO FENATIB AVALIA RESULTADO DA 25ª EDIÇÃO

Entrevistas realizadas com o público servirão de base para promover reformulações

A 25ª edição do Festival Nacional de Teatro para Crianças e Jovens de Blumenau (Fenatib), realizada de 15 a 22 de setembro, marcou o jubileu de prata do evento criado em 1997 com o objetivo de formação de plateia e de democratização do acesso ao teatro. Segundo levantamento da comissão organizadora, o público total dois oito dias de festival foi de 9800 pessoas. No período, foram realizadas entrevistas com crianças, adolescentes, professores, componentes dos grupos de teatro, palestrantes e debatedores. Os depoimentos estão sendo analisados para fazer um diagnóstico sobre o festival no intuito de propor inovações a partir do ano que vem.

Alunos de escolas de Blumenau no Teatro Carlos Gomes para o 25º Fenatib (Foto: Marcelo Martins)

O 25º Fenatib, em oito dias de realização, ofereceu 39 apresentações de 17 espetáculos, oficinas, debates, análise dos espetáculos e o 5º Seminário de Estudos sobre Teatro para Crianças e Jovens, com o tema “Palhaçaria e Comicidade”. O artista Salomão Jesus mora e trabalha em Massaranduba e soube do evento pela imprensa. Salomão faz espetáculos como o palhaço “Seriguela” e deu um depoimento emocionado sobre o que aprendeu no seminário: “Estou encantado. O que ouvi me fez pensar sobre o número que apresento e a necessidade de trabalhar melhor a dramaturgia. Nunca imaginei que pudesse estar aqui, aprendendo com os mestres da palhaçaria e comicidade, ainda mais de forma gratuita.”

A motorista de serviço por aplicativo, Isabelle, fez questão de dar seu depoimento: “Eu tenho feito o transporte diário de pessoas para o teatro e os relatos que ouço dos pais e das crianças é inspirador. Eles são só elogios: aos espetáculos, às salas de teatro, à organização e ao fato de ser gratuito. Estou tão curiosa que já decidi conferir uma apresentação.” O depoimento de Isabelle remete ao trabalho feito no Brasil nas últimas décadas, de trabalhar o teatro para crianças com uma linguagem que possa fazer sentido para pessoas de todas as idades, utilizando-se da arte como caminho para a comunicação desses sentidos. Debates como os promovidos no Fenatib, ao longo de mais de duas décadas, contribuíram para essa evolução. “Um espetáculo de teatro atravessa gerações, é conteúdo pra toda família”, destaca Cleiton Echeveste, diretor do espetáculo “Louise e os Ursos”, da Pandorga Companhia de Teatro do Rio de Janeiro/RJ. Ele esclarece também que “na arte, cada um entende a partir da sua experiência, da sua vivência, independente da idade.”

Espetáculo “Napoleão” | Grupo Pavilhão da Magnólia de Fortaleza/CE | (Foto: Marcelo Martins)

Após a apresentação da peça “Napoleão”, Iohana, de 11 anos de idade, aluna do 5º ano da E.B.M Almirante Tamandaré, afirmou ter gostado do espetáculo e destacou os diálogos entre o garoto Napoleão e seu pai como os melhores momentos da peça. Já Davi, 9 anos, aluno do 3º. ano da E.B.M. Zulma Souza da Silva, disse estar feliz em voltar ao Fenatib, pois ele já havia participado do festival quando ainda frequentava a Educação Infantil. Para sua colega de escola, Elisabete, de 8 anos, esta foi a primeira experiência numa sala de espetáculos.

Stephanie e Dilan, alunos da Dual International School de Blumenau (Foto: Marcelo Martins)

Alunos da Dual International School, que oferece aulas de teatro desde o primeiro ano do Ensino Fundamental, fizeram uma análise mais profunda a partir dos elementos técnicos, como cenário, figurino, iluminação e sonoplastia. Foi o caso de Dilan Freitag, 14 anos de idade, aluno do 8º ano, que afirmou já ter frequentado salas teatrais em outras oportunidades. Sua colega Stephanie, aluna do 7º ano, 12 anos de idade, comentou sobre o fato do texto apresentado ter feito críticas construtivas ao modelo social vigente e afirmou ter gostado da movimentação cênica. Segundo ela, esta apresentação vai ajudar os alunos de sua escola nas aulas de teatro que costumam assistir.

Espetáculo “Lara e o Pássaro” | Grupo Alvorada Cultural de Mauá/SP (Foto: Marcelo Martins)

O espetáculo “Lara e o Pássaro” foi assistido por alunos do Colégio Sagrada Família. Liz Beatriz, de 8 anos, aluna do 3º ano, encantou-se com tudo o que viu no palco e afirmou ter aprendido a lição de que “a gente precisa perdoar as pessoas”. Vicente Maranez ficou fascinado e levemente amedrontado com a cena em que aparecem apenas os olhos iluminados de um gato assombrando a menina Lara. Disse ter sentido um pouco de medo: “todo mundo sente medo, às vezes.”

“O Romance do Pavão Misterioso” | Grupo Mamulengo sem Fronteiras | Brasília/DF (Foto: Marcelo Martins)

Na apresentação do espetáculo “O Romance do Pavão Misterioso”, adaptação do Cordel de José Camello de Melo, dirigido por Chico Simões, e apresentado pelo grupo Mamulengo Sem Fronteiras, do Distrito Federal, a história é sobre um rapaz chamado Evangelista que, ao contemplar a beleza de Creuza, donzela conservada prisioneira pelo seu pai, um Conde, sente-se invadido pelo desejo de resgatar a moça. Evangelista foge com Creuza, ajudado por um pavão mecânico, construído por um cientista maluco.

Ao fim do espetáculo a jovem Brenda, de 14 anos, aluna da Escola Fernando Osterman, afirmou estar em um teatro pela primeira vez. Considerou a experiência “boa e divertida”. Disse gostar de ouvir histórias desde pequena e pretende voltar ao teatro mais vezes. Sua colega Camila, 13 anos de idade, disse que riu bastante “porque a peça é muito legal”, e vai pedir aos pais e professores para assistir a outros espetáculos de agora em diante.

Espetáculo “Emaranhada” | Grupo Arte, Momento & Luz de São Paulo/SP (Foto: Marcelo Martins)

No espetáculo “Emaranhada”, texto de Luan Valero, produzido pelo grupo Arte, Momento & Luz, de São Paulo, a atriz Amarilis Irani, sob direção de Márcio Moura, conta a história de uma heroína negra que valoriza todos os fios ancestrais presentes em nossas cabeças. Para tanto, faz um paralelo entre as árvores e os fios de cabelo que, se bem cuidados, criam raízes e crescem saudáveis. Ao final, os irmãos Miguel e Isabela, de 8 e 10 anos, que estavam acompanhados pela mãe Elisabete, comentaram o espetáculo. Miguel afirmou ter gostado de assistir a peça e, embora tenha confessado não ter entendido perfeitamente a história, disse que ao chegar em casa a mamãe lhe explicaria direitinho. Por sua vez, Isabela disse ter entendido tudo, e declarou: “a peça mostrou que as pessoas são diferentes, falam línguas diferentes, mas precisam ser respeitadas como pessoas.”

“À primeira leitura, os depoimentos são todos positivos, cheios de contentamento ao falar sobre o Fenatib, mas as entrelinhas nos oferecem pistas sobre o que pode melhorar depois de 25 anos”, destaca Maria Teresinha Heimann, coordenadora do evento. “Sabemos que precisamos avançar em vários aspectos: na seleção dos espetáculos, na inclusão de pessoas com necessidades especiais, na garantia de um espaço democrático para discutir a arte de fazer teatro para esse público específico e que demanda grande sensibilidade e cuidado em relação aos conteúdos”, explica a idealizadora do festival.
Para Maria Teresinha Heimann, a edição deste ano marcou uma história, proporcionou reflexão e deve resultar em transformações para a próxima edição. “Vivemos tempos de inovação em todos os setores. O mundo da era da informação muda muito rápido, e precisamos estar atentos para acompanhar essas mudanças também na arte e na cultura, espaços possíveis de diálogo com o grande público.”

A 26ª edição do Fenatib já deve apresentar algumas reformulações a partir das entrevistas realizadas este ano. O próximo festival deve ser focado na literatura infantil, envolvendo o incentivo à leitura nesse lugar mágico do teatro e da imaginação. O livro contando a história do Fenatib desde a sua criação, de autoria de Maria Teresinha Heimann, também será lançado no próximo ano, contribuindo para a memória do festival e destacando sua importância no cenário nacional.

O 25º Festival Nacional para Crianças e Jovens de Blumenau (Fenatib) foi uma realização do Instituto de Artes Integradas de Blumenau (Inarti) em parceria com a Secretaria Municipal de Cultura (SMC), com recursos da Lei Federal de Incentivo à Cultura.